Em um quarto sujo e bagunçado, dentro de uma casa abandonada, um garoto dorme sobre um colchão mofado e fedorento que está jogado em um canto. Ao seu lado, no chão, há uma grande mochila de acampamento, feita de um resistente tecido camuflado, e nitidamente abarrotada de coisas.
Sua única defesa contra o frio intenso desta noite tempestuosa é a manta que o recobre. E o único conforto que dispõe é um macio travesseiro, rasgado em uma de suas laterais.
Um pesado armário de madeira foi empurrado e recostado à porta fechada, servindo de escora para impedir alguma entrada indesejada. O buraco na parede, alto e estreito, onde antes existiu uma janela, está defendido apenas por um pedaço rasgado de lona preta, presa por tachinhas e fita adesiva.
Iluminada pelo clarão de um relâmpago, a lona é rasgada ao meio por sombrios volumes que invadem o quarto em grande velocidade. Em um movimento muito rápido, o garoto pega uma pistola em baixo de seu travesseiro, e a aponta na direção de uma criatura que saltara sobre ele. O clarão do disparo revelou uma raposa caindo morta com uma perfuração na cabeça, e outras quatro rodeando o colchão.
Um salto para trás esquiva-o de uma nova investida. Com um forte chute, derruba outro que se aproximava pela lateral. Mira sua arma na direção de um de seus predadores e efetua um disparo certeiro, matando-o.
Aponta para o próximo alvo, e puxa o gatilho.
Mirando na próxima raposa percebe, pelo som vazio, que a sua arma está sem munição. Uma dor aguda emerge de seu braço, quando o outro animal aproveita-se de sua distração para atacá-lo. Com uma violência animalesca, ele usa a empunhadura da pistola com um tipo de martelo, esmagando o crânio da fera que o morde com tanta força.
O último dos caçadores, ao ver que seus companheiros haviam sido mortos, recua para a janela e foge, desaparecendo noite adentro.
O menino abre um dos bolsos laterais de sua mochila, pega um kit de primeiros socorros e faz rapidamente um curativo em seu braço ensanguentado. Após isso, abre outro bolso da mochila, guarda sua pistola descarregada, e pega uma espingarda de cano duplo e algumas munições para ela.
Sentando-se no colchão, lagrimas brotam de seus olhos apavorados, enquanto ele empunha firmemente sua arma, mirando no buraco da parede por onde seus predadores entraram.
17 de fevereiro de 2014.
Esta é a ultima vez que eu acrescento alguma coisa neste diário.
Como eu disse na primeira página destas anotações, eu sempre quis ser escritor, por isso resolvi escrever sobre a minha própria vida. Seria uma forma de ensaio, um jeito de praticar minha habilidade... E o fato de relatar o meu cotidiano já me foi muito importante... Mas, agora, não têm mais nenhum significado...
Hoje é o meu aniversário. Completo 16 anos... Até comemoraria, se houvesse alguém para dividir esta comemoração comigo.
A última vez que cruzei com um ser humano foi há uns seis meses. Era uma criança, de uns onze anos no máximo... Ele tentou me matar pra roubar tudo o que eu tinha. Não tive escolha, era ele ou eu...
Enfim...
Desde aquele dia comecei a pensar, e vejo agora que não foi o mundo que mudou: fui eu que mudei. Foi a humanidade que mudou. O mundo continua o mesmo. Apenas fomos obrigados a lutar por nossa sobrevivência.
E, depois de muito pensar, também cheguei à conclusão de que não há mais razões para continuar com este diário, e nem com esse meu sonho de ser escritor! A raça humana conseguiu estragar tudo! Não existe mais nenhuma editora, não existe mais internet, não existe mais rádio, não existe mais televisão... Não existe mais nada onde se possa divulgar alguma coisa...
Assim como tantos outros, eu acreditava que tudo voltaria a ser como era antes. Acreditava que, mais cedo ou mais tarde, tudo voltaria ao normal.
Mas, como disse, nesses seis meses, eu refleti muito sobre tudo isso... E percebi que nada vai voltar a ser como era... Nunca mais...
A humanidade sempre foi tão orgulhosa de sua tecnologia... Tão cheia de si sobre seu potencial... É Irônico que tudo tenha acontecido desse jeito.
Deixo este diário para que saibam que um dia eu existi neste planeta. Que um dia eu tive sonhos e esperanças... Tudo de mim está registrado neste livro... Tudo o que eu sou... E tudo o que tinha potencial para realizar...
Só que agora, nada disso importa...
Sua única defesa contra o frio intenso desta noite tempestuosa é a manta que o recobre. E o único conforto que dispõe é um macio travesseiro, rasgado em uma de suas laterais.
Um pesado armário de madeira foi empurrado e recostado à porta fechada, servindo de escora para impedir alguma entrada indesejada. O buraco na parede, alto e estreito, onde antes existiu uma janela, está defendido apenas por um pedaço rasgado de lona preta, presa por tachinhas e fita adesiva.
Iluminada pelo clarão de um relâmpago, a lona é rasgada ao meio por sombrios volumes que invadem o quarto em grande velocidade. Em um movimento muito rápido, o garoto pega uma pistola em baixo de seu travesseiro, e a aponta na direção de uma criatura que saltara sobre ele. O clarão do disparo revelou uma raposa caindo morta com uma perfuração na cabeça, e outras quatro rodeando o colchão.
Um salto para trás esquiva-o de uma nova investida. Com um forte chute, derruba outro que se aproximava pela lateral. Mira sua arma na direção de um de seus predadores e efetua um disparo certeiro, matando-o.
Aponta para o próximo alvo, e puxa o gatilho.
Mirando na próxima raposa percebe, pelo som vazio, que a sua arma está sem munição. Uma dor aguda emerge de seu braço, quando o outro animal aproveita-se de sua distração para atacá-lo. Com uma violência animalesca, ele usa a empunhadura da pistola com um tipo de martelo, esmagando o crânio da fera que o morde com tanta força.
O último dos caçadores, ao ver que seus companheiros haviam sido mortos, recua para a janela e foge, desaparecendo noite adentro.
O menino abre um dos bolsos laterais de sua mochila, pega um kit de primeiros socorros e faz rapidamente um curativo em seu braço ensanguentado. Após isso, abre outro bolso da mochila, guarda sua pistola descarregada, e pega uma espingarda de cano duplo e algumas munições para ela.
Sentando-se no colchão, lagrimas brotam de seus olhos apavorados, enquanto ele empunha firmemente sua arma, mirando no buraco da parede por onde seus predadores entraram.
17 de fevereiro de 2014.
Esta é a ultima vez que eu acrescento alguma coisa neste diário.
Como eu disse na primeira página destas anotações, eu sempre quis ser escritor, por isso resolvi escrever sobre a minha própria vida. Seria uma forma de ensaio, um jeito de praticar minha habilidade... E o fato de relatar o meu cotidiano já me foi muito importante... Mas, agora, não têm mais nenhum significado...
Hoje é o meu aniversário. Completo 16 anos... Até comemoraria, se houvesse alguém para dividir esta comemoração comigo.
A última vez que cruzei com um ser humano foi há uns seis meses. Era uma criança, de uns onze anos no máximo... Ele tentou me matar pra roubar tudo o que eu tinha. Não tive escolha, era ele ou eu...
Enfim...
Desde aquele dia comecei a pensar, e vejo agora que não foi o mundo que mudou: fui eu que mudei. Foi a humanidade que mudou. O mundo continua o mesmo. Apenas fomos obrigados a lutar por nossa sobrevivência.
E, depois de muito pensar, também cheguei à conclusão de que não há mais razões para continuar com este diário, e nem com esse meu sonho de ser escritor! A raça humana conseguiu estragar tudo! Não existe mais nenhuma editora, não existe mais internet, não existe mais rádio, não existe mais televisão... Não existe mais nada onde se possa divulgar alguma coisa...
Assim como tantos outros, eu acreditava que tudo voltaria a ser como era antes. Acreditava que, mais cedo ou mais tarde, tudo voltaria ao normal.
Mas, como disse, nesses seis meses, eu refleti muito sobre tudo isso... E percebi que nada vai voltar a ser como era... Nunca mais...
A humanidade sempre foi tão orgulhosa de sua tecnologia... Tão cheia de si sobre seu potencial... É Irônico que tudo tenha acontecido desse jeito.
Deixo este diário para que saibam que um dia eu existi neste planeta. Que um dia eu tive sonhos e esperanças... Tudo de mim está registrado neste livro... Tudo o que eu sou... E tudo o que tinha potencial para realizar...
Só que agora, nada disso importa...
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