1.
Rodovia Santa Mônica.
Quilômetro 42.
Em uma noite fria de outono, um luxuoso veículo cupê – vermelho, duas portas, último modelo – corre a 160 Km/h, manobrando e ultrapassando todos os outros carros e caminhões que estão na estrada – não que sejam muitos, pelo contrário.
Naquela noite de lua crescente, anunciaram na TV que poderia chover forte nessa região – mas o céu estrelado e sem nuvens insiste em afirmar o contrário.
Não é possível ver quem está pilotando o esportivo vermelho, pois todos os vidros, inclusive o para-brisa, são recobertos por uma escura película de tom enegrecido.
O intrépido automóvel acelera cada vez mais, saboreando a velocidade que o seu potente motor lhe proporciona. O vento quase assovia quando passa pelo aerofólio, fixado no final do seu estilizado corpo. As prateadas rodas de liga leve brilham ante as luzes dos postes, que iluminam a rodovia em toda a sua extensão. Os faróis do carro parecem os olhos de um animal selvagem, momentos antes do derradeiro bote em sua presa. A lataria está em perfeito estado, reluzente e sem um arranhão, o que faz parecer que o carro acabou de sair de uma concessionária.
O belo esportivo vermelho continua seguindo em frente, até que, na linha do horizonte, surge um estabelecimento curioso: um pequeno bar de estrada, cujo telhado mal cuidado e as grandes janelas quadriculadas lhe conferiam um aspecto rústico.
A velocidade é reduzida gradativamente.
O carro é estacionado na frente do recinto.
Sobre a escura e acastanhada porta dupla de madeira – daquelas que se vê nas entradas dos Saloons, em antigos filmes de faroeste – há um painel de neon vermelho, no qual está escrito:
Lloyd’s Bar
A fachada do bar, recoberta por uma chapada pintura na cor verde-musgo (que já estava descamando, diga-se de passagem), não é nem um pouco chamativa. Porém, as antiquadas janelas de madeira envernizada tinham lá o seu charme.
O motor do veículo é desligado.
A porta do motorista se abre.
Um jovem e alto rapaz desce, fitando a entrada do velho bar com seus olhos castanho-esverdeados – olhos que geram um bom contraste com sua pele branca, levemente bronzeada.
A porta do carro é fechada. Seu braço esquerdo se levanta, e seus dedos correm por seus curtos cabelos castanho-escuros, naturalmente arrepiados. Sua expressão é serena e enigmática.
Ajeita a gola de sua camisa abotoada – uma xadreza, quadriculada de vermelho e branco – que recobre uma camiseta branca. Retira, de um dos bolsos da frente de sua batida calça jeans azul, um celular preto com detalhes cromados, e observa o display do aparelho: como plano de fundo há uma imagem de Yin-Yang – envolto em um disco solar, como se fosse um tipo de eclipse –, e no canto superior direito da tela, um relógio digital, marcando 00:37.
Caminha em direção à entrada. Seus passos são elegantes, calmos, e despojados – combinando com o tênis branco de solado baixo que usa.
Aproxima-se da portinhola, e abre-a. Apesar de não ser muito grande e nem muito espessa, a notória corrente de prata em seu pescoço brilha, refletindo as luzes do ambiente.
Adentra no recinto: um espaço relativamente amplo, preenchido por quatro mesas de sinuca, uma máquina de pinball (cujo tema deve ser “As Gostosas Garotas de Biquíni contra o Aliens do Mal”, ou qualquer coisa assim), e algumas máquinas arcade – só os clássicos games de luta.
O assoalho batido, o papel de parede em tom madeira, e os simples porém chamativos lustres criavam um agradável efeito de um ambiente rústico. Ao fundo, o balcão do bar, onde uma bela e habilidosa barmaid ruiva prepara os drinques dos clientes. Distribuídos em posições estratégicas, três imensos brutamontes engravatados fazem a segurança do local. Duas garçonetes, vestidas com um tipo de uniforme preto e branco, servem os pedidos nas mesas – além de uma pausa pra uns goles, o bar dispõe de uma cozinha que também oferta uma pequena variedade de porções e refeições À La Carte (em geral, não saía nada muito fora do tradicional: arroz, feijão, bife, e batatas fritas).
Nos cantos das paredes, no alto, quatro pequenas caixas de som. E neste exato momento, elas tocam o refrão de uma agitada canção. A música agrada o recém-chegado, que sorri suavemente.
Dentro do Lloyd´s não havia mais do que vinte pessoas, mas é um número até que expressivo, se considerarmos que hoje é quarta-feira, e que este imenso bar fica no meio do nada. Em geral, metade dos que ali estão são motoqueiros – com suas jaquetas de couro preto, saídos diretamente de um remake dos anos distantes – e o restante é formado por viajantes cansados, caminhoneiros, e meia dúzia de lindas e desacompanhadas mulheres – que, obviamente, estavam sendo paqueradas pelos homens do local.
O recém-chegado caminha até o grande balcão envernizado, onde são servidas as bebidas – em maior número, sem dúvida, estavam as grandes doses de destilados – e preparados os drinques – desde aqueles mais fracos, tipo uma batida de frutas, até umas coisas que ninguém jamais ouvira falar, como é o caso do Touro Sentado na Chuva do Inverno (entre os que beberam, alguns afirmam terem visto gnomos, outros discos voadores, e ainda existem aqueles que juram por Deus que ganharam na loteria federal!).
Senta-se em uma das banquetas vazias diante do balcão.
Parece ignorar por completo todas as outras pessoas que estão no bar – e as pessoas também não demonstram interesse por ele.
A ruiva de olhos azuis sorri para o desconhecido e pergunta, com moderada simpatia:
– Boa noite. O que vai beber?
Ele sorri de volta, e responde:
– Um copo de leite frio, por favor.
Um caminhoneiro, que estava tomando uma dose tripla de uísque do seu lado direito, começa a rir, e se engasga com a própria bebida. A moça do bar, que também achou o pedido engraçado, complementa, com um leve tom de sarcasmo:
– Com chocolate, ou puro?
– Puro... Hoje não me sinto tão rebelde a ponto de misturar o leite com cacau e açúcar... Quem sabe outro dia...
– Ok...
A balconista caminha até um pequeno frigobar bege, abre-o, e tira de dentro uma caixa de leite.
Pega na prateleira uma grande caneca de vidro de 500 ml, que normalmente seria usada pra servir chope, e enche-a com a bebida pálida que verte da caixinha colorida.
Entrega ao cliente, que agradece.
O caminhoneiro olha a cena, incrédulo. Não sabia se estava mais surpreso pelo pedido do estranho, ou pelo fato da moça servir leite em um bar de estrada – já que ali não se servia nem mesmo café expresso...
O jovem percebe o interesse do gorducho e careca caminhoneiro, cujas grossas sobrancelhas se contorciam em uma incógnita estarrecedora, e se justifica:
– É que eu estou com azia, por isso não posso beber...
– Entendo... – responde o gorducho, surpreso com a justificativa.
Algumas pessoas observaram o fato com um leve – e muito breve – interesse.
A música que estava tocando se encerra, e outras começam em seu lugar. O caminhoneiro terminou o seu drinque, pagou a sua conta e foi embora.
A caneca de leite ainda está pela metade.
As poucas mulheres que estavam no bar também já se foram – cada uma saiu acompanhada de um homem de sorte.
A canção que toca agora parece uma mistura de rock’n’roll e sertanejo.
A portinhola da entrada do bar se abre. Um homem loiro e esguio, trajando um terno, entra no recinto. À exceção de sua gravata cinza, toda a sua vestimenta é negra.
O rapaz de camisa xadrez percebe a entrada. Sem nenhum alarde, pega novamente o seu celular, e olha as horas: 01:02.
2.
– O cara está meio deslocado, não acha? – diz o estranho de camisa xadrez, com um sorriso simpático.
– Ele? – A moça ruiva fita brevemente o jovem de terno na entrada do bar, retornando a sua atenção novamente ao bebedor de leite. – Faz três meses que esse advogado vem aqui, pelo menos uma vez por semana, tentar me passar uma cantada. Mas como eu nunca lhe dava moral, ele sempre desistia rápido, e ia atormentar uma outra azarada. Às vezes, até conseguia sair com um desses “alvos”...
– Mas como os outros “alvos” não estão presentes...
– É... – Ela suspira, com um leve desanimo. – Hoje vai ser uma longa noite...
– Então... Você vai dar uma chance pra ele, hoje? – Pergunta o rapaz de xadrez, com um sorriso carregado de sarcasmo.
Sentindo-se desafiada, a moça responde à altura, também esboçando um sorriso malicioso:
– Quem sabe... Afinal, não tem NINGUÉM mais que valha à pena neste bar, hoje...
Fazendo uma cômica expressão de desgosto, lamenta-se, entre sério e brincando:
– Ah, magoei...
A bela ruiva ri.
O homem de preto chega ao balcão e, sorrindo para a balconista, diz:
– Boa noite, Kelly!
– Boa noite, Bruno.
– Você está formidável esta noite, sabia? Cada vez mais linda...
– Obrigada. – Com a delicadeza de um elefante sobre uma pilha de taças de cristal, a bartender desvia o assunto, tentando se prevenir de novas e ridículas investidas. – O que vai beber?
– Uma dose dupla de licor de menta batido com leite condensado, por favor.
– Ok. Só um instante...
Kelly entrega uma taça, contendo o pedido do não muito brilhante advogado. Este sorve um gole, e tenta prosseguir a conversa:
– Eu tinha feito uma viajem pra outro estado, a negócios, e como esse bar fica bem no caminho de volta, eu fiz questão de te fazer uma visitinha. Como você está Kelly, tudo bem?
– Eu estou ótima... – Responde, tentando ser simpática, mas sem conseguir esconder o tédio, e o total descaso com o provável pretendente.
Querendo evitar a monotonia que aquela noite poderia virar, o jovem de xadrez direciona a palavra ao estranho:
– Olha, minha intuição diz que você está com muita sorte esta noite! O que me diz? Topa um pequeno desafio?
O advogado Bruno olha o rapaz, em silêncio, demonstrando certa inquietação. Após um breve instante, responde com outra pergunta:
– Um desafio?
De fato, ele não é dos juristas mais brilhantes...
– Sim, um pequeno jogo. Esquemas fáceis, regras simples, essas coisas. Nada de muito complicado... Sabe jogar sinuca?
O advogado carrega um sorriso cheio de orgulho, e começa a contar vantagem, querendo impressionar a jovem Kelly:
– Mas é claro que eu sei! Tenho uma prateleira em casa, com mais de VINTE TROFÉUS esportivos! Destes, TRÊS são de campeonatos INTERNACIONAIS de Bilhar e Sinuca!
– Vamos jogar então? – Pergunta o desafiante.
A moça do bar apoia:
– Isso! Que tal apostarem a rodada? O perdedor paga tudo.
– Ótima ideia, Kelly! – Afirma Bruno, com uma convicção cega.
– Por mim, tudo bem – complementa o outro.
– Ótimo! – Kelly diz, com uma sutil satisfação permeando sua voz. – Vão lá se divertir então! Tomem. A primeira é por conta da casa.
A jovem lhes entrega uma ficha.
O caneco de leite gelado é virado em um único gole, assim como a taça de licor de menta.
Os dois se levantam de suas banquetas vermelhas.
Caminham para uma das mesas vazias.
Colocam a ficha nela, e um clique se ouve. O advogado puxa uma pequena gaveta, retira as bolas, e coloca-as na mesa. O homem de xadrez forma um triangulo com elas, no canto oposto. De um suporte na parede próxima, cada um deles retira um taco de madeira envernizada.
Após tudo pronto, o estranho olha para o advogado e diz:
– Você primeiro. Pode abrir o jogo.
– Certo.
Uma tacada é desferida pelo homem de terno negro. A bola branca é disparada contra as coloridas com grande violência. O impacto esparrama as pequenas esferas sobre a mesa, e derruba a de número 5.
– Isso! – Comemora o homem de terno.
Continua a sua jogada. Caçapa a bola 3 no canto, e a bola 1 no meio. Por pouco erra a bola 7, que parou na frente da caçapa do canto oposto à que caiu a bola 3.
Em tom de desafio, diz ao seu adversário, com um breve sorriso de quem canta a vitória antes do tempo:
– Sua vez.
O seu adversário jogou... E errou – foi por pouco, mas erro é erro!
Novas tacadas são distribuídas sobre o carpete verde da mesa. O advogado enterra novas esferas coloridas em suas covas circulares. E novos “quases” são fornecidos pelo homem de camisa xadrez...
A partida toda se seguiu assim.
Ao fim do jogo, o desafiante matou apenas a bola 10, enquanto o vitorioso Bruno despachou todas as suas, com uma maestria profissional.
– Revanche? – Pergunta o jovem derrotado.
– Claro! Quer subir a aposta? A rodada e mais cem pratas. Que tal?
– Topo.
O derrotado comprou uma ficha.
A mesa é reaberta, e as pequenas esferas multicoloridas são reagrupadas sobre a mesma.
A música que toca agora é um antigo clássico do hard rock.
O rapaz de xadrez pergunta ao seu adversário, com um tom de curiosidade:
– Me responda uma coisa: você ouviu falar que esta região se tornou meio perigosa nos últimos meses?
– Já. Mas que lugar não é perigoso hoje em dia?
– De fato. Só que o estranho é que aqui só se atacam mulheres, não é mesmo?
O advogado fixa o olhar no seu oponente, com um misto de surpresa e cautela. O estranho continua, focando desafiadoramente os seus olhos nos do jovem de terno negro.
– Segundo o que eu li nos jornais, foram documentadas quatro ocorrências de desaparecimento por estas bandas, mas segundo as fontes não-oficiais, o número real é de vinte e três. Mas como em sua maioria são prostitutas, não tem muita gente que dê por falta delas além dos próprios cafetões... Mas... Como eles rapidamente acham novas garotas pra substituir as que “perderam”, essa falta não dura mais do que 48 horas...
As bolas são arrumadas na mesa.
– Sério? Não ouvi nada de muito profundo a respeito disso... Você deve ser um fã de casos policiais, hein? – Demonstra um sorriso nervoso.
– Só um pouco... – Faz uma rápida pausa, abaixando o olhar e fixando-o na mesa, estudando o jogo. Ergue os olhos de volta ao advogado. – Você pode começar de novo, se quiser...
O advogado abre a rodada, sem derrubar nenhuma bola agora. Demonstra uma ligeira alteração, como se estivesse perturbado com alguma coisa.
O oponente sorri.
– Ué? Será que a sua sorte está acabando? – Brinca o rapaz de xadrez, em tom provocador, sem esconder um sorriso carregado de maldade.
– Não... Só estou te dando uma chance...
– Que gentileza! Obrigado. – Diz, em tom irônico.
Os olhos de ambos agora faíscam. Parecem acesos pavios de dinamite, que já queimaram quase toda a sua extensão – três, dois, um, KABOOM!!!
O jovem de cabelos escuros estira seus ombros, em um movimento circular. Aponta o taco para a bola branca, que está bem no centro da mesa. Estuda o jogo novamente, e afirma confiante:
– Todas as menores, caçapas do canto. Bola 8, caçapa do meio.
– Duvido!
O rapaz efetua uma tacada. Um baque violento é ouvido, e a bola branca se encaminha na direção da bola número 3, que estava de frente para uma das caçapas do meio. Retira-a de sua posição original, e derruba-a em uma das caçapas do canto. A bola branca, enquanto isso, ricocheteia em cada uma das outras seis bolas menores, derrubando uma a uma, somente nas caçapas do canto. Por fim, a pequena esfera branca sem número acerta de raspão a bola negra na qual está gravada o numeral 8, e derruba-a, lenta e precisamente, em uma das caçapas do centro – um movimento perfeito.
O advogado Bruno olha a cena, embasbacado, sem conseguir esconder a reação de surpresa.
O jovem de roupa batida sorri maldosamente. Aproxima-se de seu adversário, e ergue a sua mão esquerda, com a palma aberta e virada pra cima.
– Acho que eu ganhei, certo? – Faz um rápido gesto de balançar lateralmente a cabeça, acenando na direção do balcão de bebidas. – Pra ela, você paga a rodada. Pra mim, cem pratas.
– Certo... Jogo é jogo. – Tenta demonstrar dignidade, mas, no fundo, odiou perder. Retira a carteira do bolso, e pega duas notas de cinquenta, entregando-as ao vitorioso desconhecido. – Aqui.
– Certo. – O homem de xadrez junta as notas e as dobra ao meio. Guarda o dinheiro no bolso da camisa, voltando a fixar o seu olhar nos olhos de seu oponente. Com um sutil sorriso, e um tom de voz entre desafiador e sarcástico, prossegue o seu pequeno discurso. – Nos vemos por ai. Talvez em breve...
– É. Talvez em breve...
Ambos apertam as mãos.
– Ah é, tem mais uma coisa. Já que eu ganhei as cem pratas, vou te deixar um conselho, como prêmio de consolação: o leite é ótimo pra disfarçar cheiros fortes, tipo o cheiro de sangue. Um “conselho grátis”, caso precise...
– Ok, vou me lembrar disso... – Estas palavras soaram tão pesadas quanto um bloco de chumbo.
O vencedor retorna até o balcão. O rapaz de terno negro fica parado, estático, como se tivesse visto um fantasma. A única coisa que se move são os seus olhos: as orbitas acompanham o seu oponente com uma precisão cirúrgica.
Ao chegar ao balcão, comenta, com um sedutor sorriso no rosto:
– Ganhei. Agora, a rodada é por conta dele.
– Coitadinho... Olha a cara de “cachorrinho sem dono” que ele está fazendo...
– Pois é. Acho que ele quer um consolo... Um colo pra chorar.
– Boa sorte pra ele, se conseguir achar alguém pra isso.
– Gostei de te conhecer. Pena eu ter que ir agora, mas quem sabe a gente se vê de novo, em breve...
– Seria bom...
Ele se aproxima, curvando-se sobre o balcão, e aplica um caloroso beijo no rosto da bela ruiva chamada Kelly.
– A gente se vê, linda.
– Claro. Até.
Ele caminha de volta a entrada. No percurso, passa próximo da mesa de sinuca, onde o jovem loiro de cabelos curtos ainda está parado – perplexo, pensativo, e de certa forma, apavorado, seria mais correto dizer. O rapaz de xadrez acena com a mão esquerda, fazendo um rápido gesto de adeus com a palma aberta, dizendo:
– Falou. Até mais.
O advogado acena com a cabeça, sem muito eufemismo.
Continua caminhado, até chegar à porta do bar. Abre as portinholas de Saloon, e sai.
Seu distanciamento é seguido pelos olhares de Bruno e Kelly.
Após o estranho sumir da vista de ambos, ele embarca novamente em seu elitista cupê vermelho, e parte pela estrada, adentrando a madrugada escura.
A atenção de Kelly volta-se para Bruno, que já deixara os tacos no suporte original, e retornava lentamente para o balcão.
Rodovia Santa Mônica.
Quilômetro 42.
Em uma noite fria de outono, um luxuoso veículo cupê – vermelho, duas portas, último modelo – corre a 160 Km/h, manobrando e ultrapassando todos os outros carros e caminhões que estão na estrada – não que sejam muitos, pelo contrário.
Naquela noite de lua crescente, anunciaram na TV que poderia chover forte nessa região – mas o céu estrelado e sem nuvens insiste em afirmar o contrário.
Não é possível ver quem está pilotando o esportivo vermelho, pois todos os vidros, inclusive o para-brisa, são recobertos por uma escura película de tom enegrecido.
O intrépido automóvel acelera cada vez mais, saboreando a velocidade que o seu potente motor lhe proporciona. O vento quase assovia quando passa pelo aerofólio, fixado no final do seu estilizado corpo. As prateadas rodas de liga leve brilham ante as luzes dos postes, que iluminam a rodovia em toda a sua extensão. Os faróis do carro parecem os olhos de um animal selvagem, momentos antes do derradeiro bote em sua presa. A lataria está em perfeito estado, reluzente e sem um arranhão, o que faz parecer que o carro acabou de sair de uma concessionária.
O belo esportivo vermelho continua seguindo em frente, até que, na linha do horizonte, surge um estabelecimento curioso: um pequeno bar de estrada, cujo telhado mal cuidado e as grandes janelas quadriculadas lhe conferiam um aspecto rústico.
A velocidade é reduzida gradativamente.
O carro é estacionado na frente do recinto.
Sobre a escura e acastanhada porta dupla de madeira – daquelas que se vê nas entradas dos Saloons, em antigos filmes de faroeste – há um painel de neon vermelho, no qual está escrito:
Lloyd’s Bar
A fachada do bar, recoberta por uma chapada pintura na cor verde-musgo (que já estava descamando, diga-se de passagem), não é nem um pouco chamativa. Porém, as antiquadas janelas de madeira envernizada tinham lá o seu charme.
O motor do veículo é desligado.
A porta do motorista se abre.
Um jovem e alto rapaz desce, fitando a entrada do velho bar com seus olhos castanho-esverdeados – olhos que geram um bom contraste com sua pele branca, levemente bronzeada.
A porta do carro é fechada. Seu braço esquerdo se levanta, e seus dedos correm por seus curtos cabelos castanho-escuros, naturalmente arrepiados. Sua expressão é serena e enigmática.
Ajeita a gola de sua camisa abotoada – uma xadreza, quadriculada de vermelho e branco – que recobre uma camiseta branca. Retira, de um dos bolsos da frente de sua batida calça jeans azul, um celular preto com detalhes cromados, e observa o display do aparelho: como plano de fundo há uma imagem de Yin-Yang – envolto em um disco solar, como se fosse um tipo de eclipse –, e no canto superior direito da tela, um relógio digital, marcando 00:37.
Caminha em direção à entrada. Seus passos são elegantes, calmos, e despojados – combinando com o tênis branco de solado baixo que usa.
Aproxima-se da portinhola, e abre-a. Apesar de não ser muito grande e nem muito espessa, a notória corrente de prata em seu pescoço brilha, refletindo as luzes do ambiente.
Adentra no recinto: um espaço relativamente amplo, preenchido por quatro mesas de sinuca, uma máquina de pinball (cujo tema deve ser “As Gostosas Garotas de Biquíni contra o Aliens do Mal”, ou qualquer coisa assim), e algumas máquinas arcade – só os clássicos games de luta.
O assoalho batido, o papel de parede em tom madeira, e os simples porém chamativos lustres criavam um agradável efeito de um ambiente rústico. Ao fundo, o balcão do bar, onde uma bela e habilidosa barmaid ruiva prepara os drinques dos clientes. Distribuídos em posições estratégicas, três imensos brutamontes engravatados fazem a segurança do local. Duas garçonetes, vestidas com um tipo de uniforme preto e branco, servem os pedidos nas mesas – além de uma pausa pra uns goles, o bar dispõe de uma cozinha que também oferta uma pequena variedade de porções e refeições À La Carte (em geral, não saía nada muito fora do tradicional: arroz, feijão, bife, e batatas fritas).
Nos cantos das paredes, no alto, quatro pequenas caixas de som. E neste exato momento, elas tocam o refrão de uma agitada canção. A música agrada o recém-chegado, que sorri suavemente.
Dentro do Lloyd´s não havia mais do que vinte pessoas, mas é um número até que expressivo, se considerarmos que hoje é quarta-feira, e que este imenso bar fica no meio do nada. Em geral, metade dos que ali estão são motoqueiros – com suas jaquetas de couro preto, saídos diretamente de um remake dos anos distantes – e o restante é formado por viajantes cansados, caminhoneiros, e meia dúzia de lindas e desacompanhadas mulheres – que, obviamente, estavam sendo paqueradas pelos homens do local.
O recém-chegado caminha até o grande balcão envernizado, onde são servidas as bebidas – em maior número, sem dúvida, estavam as grandes doses de destilados – e preparados os drinques – desde aqueles mais fracos, tipo uma batida de frutas, até umas coisas que ninguém jamais ouvira falar, como é o caso do Touro Sentado na Chuva do Inverno (entre os que beberam, alguns afirmam terem visto gnomos, outros discos voadores, e ainda existem aqueles que juram por Deus que ganharam na loteria federal!).
Senta-se em uma das banquetas vazias diante do balcão.
Parece ignorar por completo todas as outras pessoas que estão no bar – e as pessoas também não demonstram interesse por ele.
A ruiva de olhos azuis sorri para o desconhecido e pergunta, com moderada simpatia:
– Boa noite. O que vai beber?
Ele sorri de volta, e responde:
– Um copo de leite frio, por favor.
Um caminhoneiro, que estava tomando uma dose tripla de uísque do seu lado direito, começa a rir, e se engasga com a própria bebida. A moça do bar, que também achou o pedido engraçado, complementa, com um leve tom de sarcasmo:
– Com chocolate, ou puro?
– Puro... Hoje não me sinto tão rebelde a ponto de misturar o leite com cacau e açúcar... Quem sabe outro dia...
– Ok...
A balconista caminha até um pequeno frigobar bege, abre-o, e tira de dentro uma caixa de leite.
Pega na prateleira uma grande caneca de vidro de 500 ml, que normalmente seria usada pra servir chope, e enche-a com a bebida pálida que verte da caixinha colorida.
Entrega ao cliente, que agradece.
O caminhoneiro olha a cena, incrédulo. Não sabia se estava mais surpreso pelo pedido do estranho, ou pelo fato da moça servir leite em um bar de estrada – já que ali não se servia nem mesmo café expresso...
O jovem percebe o interesse do gorducho e careca caminhoneiro, cujas grossas sobrancelhas se contorciam em uma incógnita estarrecedora, e se justifica:
– É que eu estou com azia, por isso não posso beber...
– Entendo... – responde o gorducho, surpreso com a justificativa.
Algumas pessoas observaram o fato com um leve – e muito breve – interesse.
A música que estava tocando se encerra, e outras começam em seu lugar. O caminhoneiro terminou o seu drinque, pagou a sua conta e foi embora.
A caneca de leite ainda está pela metade.
As poucas mulheres que estavam no bar também já se foram – cada uma saiu acompanhada de um homem de sorte.
A canção que toca agora parece uma mistura de rock’n’roll e sertanejo.
A portinhola da entrada do bar se abre. Um homem loiro e esguio, trajando um terno, entra no recinto. À exceção de sua gravata cinza, toda a sua vestimenta é negra.
O rapaz de camisa xadrez percebe a entrada. Sem nenhum alarde, pega novamente o seu celular, e olha as horas: 01:02.
2.
– O cara está meio deslocado, não acha? – diz o estranho de camisa xadrez, com um sorriso simpático.
– Ele? – A moça ruiva fita brevemente o jovem de terno na entrada do bar, retornando a sua atenção novamente ao bebedor de leite. – Faz três meses que esse advogado vem aqui, pelo menos uma vez por semana, tentar me passar uma cantada. Mas como eu nunca lhe dava moral, ele sempre desistia rápido, e ia atormentar uma outra azarada. Às vezes, até conseguia sair com um desses “alvos”...
– Mas como os outros “alvos” não estão presentes...
– É... – Ela suspira, com um leve desanimo. – Hoje vai ser uma longa noite...
– Então... Você vai dar uma chance pra ele, hoje? – Pergunta o rapaz de xadrez, com um sorriso carregado de sarcasmo.
Sentindo-se desafiada, a moça responde à altura, também esboçando um sorriso malicioso:
– Quem sabe... Afinal, não tem NINGUÉM mais que valha à pena neste bar, hoje...
Fazendo uma cômica expressão de desgosto, lamenta-se, entre sério e brincando:
– Ah, magoei...
A bela ruiva ri.
O homem de preto chega ao balcão e, sorrindo para a balconista, diz:
– Boa noite, Kelly!
– Boa noite, Bruno.
– Você está formidável esta noite, sabia? Cada vez mais linda...
– Obrigada. – Com a delicadeza de um elefante sobre uma pilha de taças de cristal, a bartender desvia o assunto, tentando se prevenir de novas e ridículas investidas. – O que vai beber?
– Uma dose dupla de licor de menta batido com leite condensado, por favor.
– Ok. Só um instante...
Kelly entrega uma taça, contendo o pedido do não muito brilhante advogado. Este sorve um gole, e tenta prosseguir a conversa:
– Eu tinha feito uma viajem pra outro estado, a negócios, e como esse bar fica bem no caminho de volta, eu fiz questão de te fazer uma visitinha. Como você está Kelly, tudo bem?
– Eu estou ótima... – Responde, tentando ser simpática, mas sem conseguir esconder o tédio, e o total descaso com o provável pretendente.
Querendo evitar a monotonia que aquela noite poderia virar, o jovem de xadrez direciona a palavra ao estranho:
– Olha, minha intuição diz que você está com muita sorte esta noite! O que me diz? Topa um pequeno desafio?
O advogado Bruno olha o rapaz, em silêncio, demonstrando certa inquietação. Após um breve instante, responde com outra pergunta:
– Um desafio?
De fato, ele não é dos juristas mais brilhantes...
– Sim, um pequeno jogo. Esquemas fáceis, regras simples, essas coisas. Nada de muito complicado... Sabe jogar sinuca?
O advogado carrega um sorriso cheio de orgulho, e começa a contar vantagem, querendo impressionar a jovem Kelly:
– Mas é claro que eu sei! Tenho uma prateleira em casa, com mais de VINTE TROFÉUS esportivos! Destes, TRÊS são de campeonatos INTERNACIONAIS de Bilhar e Sinuca!
– Vamos jogar então? – Pergunta o desafiante.
A moça do bar apoia:
– Isso! Que tal apostarem a rodada? O perdedor paga tudo.
– Ótima ideia, Kelly! – Afirma Bruno, com uma convicção cega.
– Por mim, tudo bem – complementa o outro.
– Ótimo! – Kelly diz, com uma sutil satisfação permeando sua voz. – Vão lá se divertir então! Tomem. A primeira é por conta da casa.
A jovem lhes entrega uma ficha.
O caneco de leite gelado é virado em um único gole, assim como a taça de licor de menta.
Os dois se levantam de suas banquetas vermelhas.
Caminham para uma das mesas vazias.
Colocam a ficha nela, e um clique se ouve. O advogado puxa uma pequena gaveta, retira as bolas, e coloca-as na mesa. O homem de xadrez forma um triangulo com elas, no canto oposto. De um suporte na parede próxima, cada um deles retira um taco de madeira envernizada.
Após tudo pronto, o estranho olha para o advogado e diz:
– Você primeiro. Pode abrir o jogo.
– Certo.
Uma tacada é desferida pelo homem de terno negro. A bola branca é disparada contra as coloridas com grande violência. O impacto esparrama as pequenas esferas sobre a mesa, e derruba a de número 5.
– Isso! – Comemora o homem de terno.
Continua a sua jogada. Caçapa a bola 3 no canto, e a bola 1 no meio. Por pouco erra a bola 7, que parou na frente da caçapa do canto oposto à que caiu a bola 3.
Em tom de desafio, diz ao seu adversário, com um breve sorriso de quem canta a vitória antes do tempo:
– Sua vez.
O seu adversário jogou... E errou – foi por pouco, mas erro é erro!
Novas tacadas são distribuídas sobre o carpete verde da mesa. O advogado enterra novas esferas coloridas em suas covas circulares. E novos “quases” são fornecidos pelo homem de camisa xadrez...
A partida toda se seguiu assim.
Ao fim do jogo, o desafiante matou apenas a bola 10, enquanto o vitorioso Bruno despachou todas as suas, com uma maestria profissional.
– Revanche? – Pergunta o jovem derrotado.
– Claro! Quer subir a aposta? A rodada e mais cem pratas. Que tal?
– Topo.
O derrotado comprou uma ficha.
A mesa é reaberta, e as pequenas esferas multicoloridas são reagrupadas sobre a mesma.
A música que toca agora é um antigo clássico do hard rock.
O rapaz de xadrez pergunta ao seu adversário, com um tom de curiosidade:
– Me responda uma coisa: você ouviu falar que esta região se tornou meio perigosa nos últimos meses?
– Já. Mas que lugar não é perigoso hoje em dia?
– De fato. Só que o estranho é que aqui só se atacam mulheres, não é mesmo?
O advogado fixa o olhar no seu oponente, com um misto de surpresa e cautela. O estranho continua, focando desafiadoramente os seus olhos nos do jovem de terno negro.
– Segundo o que eu li nos jornais, foram documentadas quatro ocorrências de desaparecimento por estas bandas, mas segundo as fontes não-oficiais, o número real é de vinte e três. Mas como em sua maioria são prostitutas, não tem muita gente que dê por falta delas além dos próprios cafetões... Mas... Como eles rapidamente acham novas garotas pra substituir as que “perderam”, essa falta não dura mais do que 48 horas...
As bolas são arrumadas na mesa.
– Sério? Não ouvi nada de muito profundo a respeito disso... Você deve ser um fã de casos policiais, hein? – Demonstra um sorriso nervoso.
– Só um pouco... – Faz uma rápida pausa, abaixando o olhar e fixando-o na mesa, estudando o jogo. Ergue os olhos de volta ao advogado. – Você pode começar de novo, se quiser...
O advogado abre a rodada, sem derrubar nenhuma bola agora. Demonstra uma ligeira alteração, como se estivesse perturbado com alguma coisa.
O oponente sorri.
– Ué? Será que a sua sorte está acabando? – Brinca o rapaz de xadrez, em tom provocador, sem esconder um sorriso carregado de maldade.
– Não... Só estou te dando uma chance...
– Que gentileza! Obrigado. – Diz, em tom irônico.
Os olhos de ambos agora faíscam. Parecem acesos pavios de dinamite, que já queimaram quase toda a sua extensão – três, dois, um, KABOOM!!!
O jovem de cabelos escuros estira seus ombros, em um movimento circular. Aponta o taco para a bola branca, que está bem no centro da mesa. Estuda o jogo novamente, e afirma confiante:
– Todas as menores, caçapas do canto. Bola 8, caçapa do meio.
– Duvido!
O rapaz efetua uma tacada. Um baque violento é ouvido, e a bola branca se encaminha na direção da bola número 3, que estava de frente para uma das caçapas do meio. Retira-a de sua posição original, e derruba-a em uma das caçapas do canto. A bola branca, enquanto isso, ricocheteia em cada uma das outras seis bolas menores, derrubando uma a uma, somente nas caçapas do canto. Por fim, a pequena esfera branca sem número acerta de raspão a bola negra na qual está gravada o numeral 8, e derruba-a, lenta e precisamente, em uma das caçapas do centro – um movimento perfeito.
O advogado Bruno olha a cena, embasbacado, sem conseguir esconder a reação de surpresa.
O jovem de roupa batida sorri maldosamente. Aproxima-se de seu adversário, e ergue a sua mão esquerda, com a palma aberta e virada pra cima.
– Acho que eu ganhei, certo? – Faz um rápido gesto de balançar lateralmente a cabeça, acenando na direção do balcão de bebidas. – Pra ela, você paga a rodada. Pra mim, cem pratas.
– Certo... Jogo é jogo. – Tenta demonstrar dignidade, mas, no fundo, odiou perder. Retira a carteira do bolso, e pega duas notas de cinquenta, entregando-as ao vitorioso desconhecido. – Aqui.
– Certo. – O homem de xadrez junta as notas e as dobra ao meio. Guarda o dinheiro no bolso da camisa, voltando a fixar o seu olhar nos olhos de seu oponente. Com um sutil sorriso, e um tom de voz entre desafiador e sarcástico, prossegue o seu pequeno discurso. – Nos vemos por ai. Talvez em breve...
– É. Talvez em breve...
Ambos apertam as mãos.
– Ah é, tem mais uma coisa. Já que eu ganhei as cem pratas, vou te deixar um conselho, como prêmio de consolação: o leite é ótimo pra disfarçar cheiros fortes, tipo o cheiro de sangue. Um “conselho grátis”, caso precise...
– Ok, vou me lembrar disso... – Estas palavras soaram tão pesadas quanto um bloco de chumbo.
O vencedor retorna até o balcão. O rapaz de terno negro fica parado, estático, como se tivesse visto um fantasma. A única coisa que se move são os seus olhos: as orbitas acompanham o seu oponente com uma precisão cirúrgica.
Ao chegar ao balcão, comenta, com um sedutor sorriso no rosto:
– Ganhei. Agora, a rodada é por conta dele.
– Coitadinho... Olha a cara de “cachorrinho sem dono” que ele está fazendo...
– Pois é. Acho que ele quer um consolo... Um colo pra chorar.
– Boa sorte pra ele, se conseguir achar alguém pra isso.
– Gostei de te conhecer. Pena eu ter que ir agora, mas quem sabe a gente se vê de novo, em breve...
– Seria bom...
Ele se aproxima, curvando-se sobre o balcão, e aplica um caloroso beijo no rosto da bela ruiva chamada Kelly.
– A gente se vê, linda.
– Claro. Até.
Ele caminha de volta a entrada. No percurso, passa próximo da mesa de sinuca, onde o jovem loiro de cabelos curtos ainda está parado – perplexo, pensativo, e de certa forma, apavorado, seria mais correto dizer. O rapaz de xadrez acena com a mão esquerda, fazendo um rápido gesto de adeus com a palma aberta, dizendo:
– Falou. Até mais.
O advogado acena com a cabeça, sem muito eufemismo.
Continua caminhado, até chegar à porta do bar. Abre as portinholas de Saloon, e sai.
Seu distanciamento é seguido pelos olhares de Bruno e Kelly.
Após o estranho sumir da vista de ambos, ele embarca novamente em seu elitista cupê vermelho, e parte pela estrada, adentrando a madrugada escura.
A atenção de Kelly volta-se para Bruno, que já deixara os tacos no suporte original, e retornava lentamente para o balcão.
...
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