O Baile (História Completa)

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O relógio marca 20:00. Está escuro. Pela pequena fresta na cortina da janela da sala, uma bela jovem oriental observa a rua. Nitidamente, estava ansiosa.
– Não se preocupe Mia – diz uma mulher idosa, também oriental, quando entra na sala de estar. – Ele só está atrasado quinze minutos! Ele vai vir.
– Eu sei, mãe. Mas é que ele nunca se atrasa!
– Você vai dizer pra ele?
– Vou... – Responde Mia, com um sorriso tímido.
– Já era hora...
A jovem estava usando um longo vestido rodado, na cor lilás, com pregas laterais. Apertava-lhe um pouco o busto avantajado, mas nada que a incomodasse. Ela havia passado tarde toda no cabeleireiro, preparando seu penteado majestoso – um tipo de coque, com uma franja sensual. Ela queria estar bela para o seu par. Eram amigos de longa data, e ambos gostavam muito um do outro. Porém, eram tímidos demais, e nenhum deles havia tomado qualquer iniciativa... Não até aquela noite. Não até ele convidá-la para o baile...
Em outro ponto da cidade, um jovem loiro se apronta desesperadamente, repetindo para si mesmo: “Estou atrasado!”. Está trajando um smoking preto, que ele havia alugado para a ocasião. Cabelo bem arrumado, e besuntado em gel.
Ele estava saindo em disparada pela porta, quando a voz de um homem mais velho o interrompe:
– Fique calmo, Daniel. Tudo vai dar certo. Eu te garanto!
– Tomara, pai.
– Já que você vai levar o carro, traga-o de volta com o tanque cheio, está bem?
– Pode deixar! Tchau mãe, tchau pai. Se cuidem!
– Tchau filho – ambos respondem.
Daniel saiu afoito pela porta e foi para a garagem pegar o carro: um modelo clássico, conversível, azul marinho, em perfeito estado de conservação.
Deu-lhe partida, e foi ao encontro de sua amada.
Porém, em um cruzamento próximo, outro veículo que vinha rápido furou o sinal, e acertou o carro do rapaz em cheio, na lateral do motorista...
O relógio agora marcava 20:32. Mia estava desesperada. Há cerca de cinco minutos, havia ligado para a casa de Daniel. Seus pais lhe disseram que ele já deveria estar chegando. Mas isso não a confortava. Ela sentia que alguma coisa havia acontecido com a pessoa a quem ela havia entregado o coração. De repente, a campainha toca. Ela atende.
– Desculpe o atraso, Mia. Eu bati o carro...
A moça fica pálida e pergunta, aflita:
– Está tudo bem? Você não se machucou?
– Não. Só destruí o carro... – Sorri calorosamente. – Meu pai vai me matar!
– Eu quase pensei que você não vinha mais...
– Lembra-se do que eu te disse quando a gente se conheceu? Eu prometi que sempre cumpriria as promessas que fizesse a você. E eu prometi levá-la ao baile nesta noite.
– Ah, Daniel... – Ela sorri.
– Vamos logo para o baile? Afinal estamos sem carro. Teremos que ir andando...
– Não tem problema. O salão fica só a oito quadras daqui.
Ambos partem para o que promete ser uma noite mágica. Essa noite será deles. A noite que ambos esperavam, há muito tempo...
Chegam ao salão da escola, onde estava ocorrendo o ‘Baile dos Formandos de Salvation High School’, segundo o que estava escrito do cartaz. Eles apresentam os seus convites, e entram no recinto. Lá dentro, a música estava alta. Tocavam ritmos jovens: pop rock, rap, dance, de tudo um pouco. E o casal não se desgrudava, mas ainda sim, nenhum dos dois teve coragem de “avançar o sinal”.
O relógio agora marca 02:50. O baile estava próximo do fim. Por intercessão do destino, a última música a tocar era exatamente a música favorita de ambos.
– É a nossa música – Daniel disse para Mia, enquanto a abraçou.
– É...
Enquanto a melodia toca, os olhares dos dois apaixonados não se desviam nem por um segundo. Existem apenas eles naquele momento. O mundo todo não está mais lá. Eles dançam suavemente, se movendo como se fossem plumas. Então, naturalmente, ambos se aproximam, os rostos se tocam, e o primeiro beijo acontece. Aquele foi, realmente, um momento mágico para ambos.
A música termina, e com ela, o baile dos formandos. Todos vão para as suas casas. Alguns casais se formaram nessa festa. O amor pairava no ar.
Em passos lentos, Daniel acompanha Mia até a casa dela. Trocam mais um caloroso e apaixonado beijo diante da porta de entrada. Então se separam.
Ele diz:
– Eu te amo.
O coração dela acelera.
– Eu também te amo.
Mais um beijo. Dessa vez, o último da noite.
– Boa noite, Daniel.
– Boa noite, Mia.
– Eu posso te ligar amanhã de manhã? – A jovem oriental perguntou ao rapaz loiro, não escondendo a sua empolgação com a ideia.
Daniel limita-se a um doce sorriso.
Após isso, o jovem se despede dela, e parte.
Ela o observa até ele virar em uma esquina, quando saiu do alcance de sua visão. Feliz por sua vida, ela entra, e vai dormir. Finalmente ela está junto do homem que ama de verdade.
Dia seguinte, 11:00.
Ela liga para a casa de Daniel. Quem atende é a mãe dele. Ela está com a voz pesada, como se algo ruim estivesse acontecendo.
– Alô, quem fala?
– Ah, bom dia, dona Joana. Aqui é a Mia. O Daniel já acordou?
– O que você disse?!
– É que ontem à noite, quando ele me deixou em casa, eu falei que iria ligar para ele de manhã, e...
– Que piada de mau gosto é essa, menina? Meu filho não foi ao baile. Ele nem chegou a te ver ontem à noite!
– Como?!
– Quando estava indo te buscar, ele sofreu um acidente e... E... E ele morreu! – Joana começa a chorar.
Mia fica sem reação, e desliga o telefone. Lágrimas caem de seus olhos. Uma dor profunda a invade. Então ela se lembra do que ele disse, quando veio buscá-la: “Lembra-se do que eu te disse quando a gente se conheceu? Eu prometi que sempre cumpriria as promessas que fizesse a você. E eu prometi levá-la ao baile nesta noite”.
Durante toda a sua vida, Daniel nunca quebrou uma promessa que havia feito à sua amada...

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