Já escurecia quando o velório de Damião estava se encerrando. O evento fúnebre de sua partida havia começado pela manhã, logo ao raiar do dia, e se estendera até agora.
Dentro de um marchetado caixão de mogno, cuja tampa estava recostada na parede, ao lado de uma coroa fúnebre de flores, Damião jazia em seu último terno azul-marinho. Suas exageradas e valiosas joias, que sempre fizeram parte do seu cotidiano, não poderiam deixar de estarem presentes. Sua última vontade, expressa em seu testamento, foi de que os seus ornamentos o acompanhassem para a outra vida, tal qual a riqueza acompanhava os milenares faraós. E sua esposa Maria, sempre dedicada durante o casamento de cinquenta e três anos, fez com que seu desejo fosse cumprido.
Agora que toda a cerimônia do velório se encerrara, e o sepultamento tornara-se iminente, Maria sente suas forças deixando-a. Aproxima-se do caixão, beija os lábios de seu finado marido uma última vez, e senta-se em uma cadeira próxima da entrada da capela mortuária. Seus demais parentes fazem uma fila, a fim prestarem as suas últimas homenagens ao falecido.
O primeiro da fila, um homem de quarenta anos que, em vida, Damião julgava ser seu melhor amigo, acende uma das sete velas no imenso candelabro diante da cabeceira do caixão. Aproxima-se de Damião e o abraça com ternura, enquanto remove discretamente a gargantilha de ouro branco incrustada de esmeraldas do pescoço do cadáver. Ao fazer isso, guarda-a no bolso, e senta-se em uma cadeira.
O próximo é seu jovem cunhado que, diga-se de passagem, deve tanto as graduações em direito quanto o próprio escritório de advocacia ao velho sogro. Acende a segunda vela. Depois, aperta a mão direita do cadáver, enquanto retira os anéis de ouro cravejado de rubis. Guarda seu furto, e se afasta do caixão.
Seu velho primo, o último ainda vivo em sua família, acende a terceira vela no candelabro, e saúda seu finado parente, enquanto remove os anéis de ouro com brilhantes da mão esquerda do morto.
Sua filha acende a quarta vela. Ela abraça carinhosamente seu pai pela última vez, enquanto lhe rouba os broches de ouro com brilhantes fixados no terno.
A seguir, seu irmão mais novo acende a quinta vela e, em meio às despedidas, furta as pulseiras de prata e ouro que o cadáver usava.
Seu irmão mais velho acende a sexta vela, e rouba do defunto o gigantesco colar de ouro incrustado de jade e ametistas.
Seu filho caçula acende a sétima e última vela. Com uma tristeza teatral, se joga sobre o corpo do pai, despedindo-se de uma maneira comovente, enquanto lhe toma as últimas joias que sobraram: as abotoaduras de ouro com diamantes.
Após as despedidas, as pessoas ali se reúnem e, juntas, cobrem o caixão de Damião com a detalhada tampa de mogno.
Cada pessoa que lhe acendeu uma luz na escuridão, pegou algo valioso como pagamento...
Dentro de um marchetado caixão de mogno, cuja tampa estava recostada na parede, ao lado de uma coroa fúnebre de flores, Damião jazia em seu último terno azul-marinho. Suas exageradas e valiosas joias, que sempre fizeram parte do seu cotidiano, não poderiam deixar de estarem presentes. Sua última vontade, expressa em seu testamento, foi de que os seus ornamentos o acompanhassem para a outra vida, tal qual a riqueza acompanhava os milenares faraós. E sua esposa Maria, sempre dedicada durante o casamento de cinquenta e três anos, fez com que seu desejo fosse cumprido.
Agora que toda a cerimônia do velório se encerrara, e o sepultamento tornara-se iminente, Maria sente suas forças deixando-a. Aproxima-se do caixão, beija os lábios de seu finado marido uma última vez, e senta-se em uma cadeira próxima da entrada da capela mortuária. Seus demais parentes fazem uma fila, a fim prestarem as suas últimas homenagens ao falecido.
O primeiro da fila, um homem de quarenta anos que, em vida, Damião julgava ser seu melhor amigo, acende uma das sete velas no imenso candelabro diante da cabeceira do caixão. Aproxima-se de Damião e o abraça com ternura, enquanto remove discretamente a gargantilha de ouro branco incrustada de esmeraldas do pescoço do cadáver. Ao fazer isso, guarda-a no bolso, e senta-se em uma cadeira.
O próximo é seu jovem cunhado que, diga-se de passagem, deve tanto as graduações em direito quanto o próprio escritório de advocacia ao velho sogro. Acende a segunda vela. Depois, aperta a mão direita do cadáver, enquanto retira os anéis de ouro cravejado de rubis. Guarda seu furto, e se afasta do caixão.
Seu velho primo, o último ainda vivo em sua família, acende a terceira vela no candelabro, e saúda seu finado parente, enquanto remove os anéis de ouro com brilhantes da mão esquerda do morto.
Sua filha acende a quarta vela. Ela abraça carinhosamente seu pai pela última vez, enquanto lhe rouba os broches de ouro com brilhantes fixados no terno.
A seguir, seu irmão mais novo acende a quinta vela e, em meio às despedidas, furta as pulseiras de prata e ouro que o cadáver usava.
Seu irmão mais velho acende a sexta vela, e rouba do defunto o gigantesco colar de ouro incrustado de jade e ametistas.
Seu filho caçula acende a sétima e última vela. Com uma tristeza teatral, se joga sobre o corpo do pai, despedindo-se de uma maneira comovente, enquanto lhe toma as últimas joias que sobraram: as abotoaduras de ouro com diamantes.
Após as despedidas, as pessoas ali se reúnem e, juntas, cobrem o caixão de Damião com a detalhada tampa de mogno.
Cada pessoa que lhe acendeu uma luz na escuridão, pegou algo valioso como pagamento...
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