Ceifeiro Talk Show

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Conforme eu havia prometido, essa aqui é a outra velharia que eu tinha na gaveta. Esta aqui é uma pequena história em quadrinhos, que também foi criada em meados de 2008. A inspiração para fazê-la foi a grave crise econômica que se alastrou pelo mundo naquela época (crise que está se repetindo, inclusive).
É engraçado ver como o mundo mudou nesse tempo... Tanta coisa em tão pouco tempo... Muitas piadas já não fazem mais sentido, e algumas delas até perderam a referência...
Mesmo assim, ela é um retrato divertido daquele momento histórico.
Espero que gostem.

(Ceifeiro Talk Show)
(Canal 13)

Mudanças de vida nem sempre são fáceis. Ainda mais quando essas mudanças significam ficar sem grana... E aí, susse? Meu nome é Zé. Zé da Foice. E eu sou um ceifador de almas. Ou pelo menos eu era... Trabalhar como ceifador de almas é bem legal. Você só precisa ir buscar as almas das pessoas que morrem, e encaminhá-las para o seu destino, seja ele qual for...


É parecido com o trabalho de um office-boy. Mas, ao contrário do office-boy, a gente trabalha pouco, é reconhecido profissionalmente, ganha bem, e temos sindicado.
[ Céu (Cima), Inferno (Baixo), Restaurante (Direita), Banheiros (Esquerda), Fliperama (Diagonal) ]
Tudo ia muito bem, até que um certo dia chegou a tal crise financeira. E essa crise foi tão grave, que até a morte deixou de ser um negócio lucrativo! Estavam morrendo cada vez menos pessoas...

Os pobres não morria porque não tinham dinheiro pro velório. Bandidos não morriam porque a polícia estava economizando munição. Políticos e fazendeiros ricos não morriam porque ninguém queria gastar dinheiro contratando matadores profissionais. Resultado: a empresa que eu trabalhava teve que fazer um grande corte nas despesas, e demitiu 2/3 dos funcionários. Um monte de ceifeiros foram para a rua.
– Demitido!
(Morte S.A. – Diretoria)

Cara, que difícil arrumar um emprego! Não tinha vaga em lugar nenhum, e a fila da agência de emprego só aumentava! E eu estava cada vez mais sem grana. Era aluguel, contas de água, contas de luz, contas de telefone, supermercado, um monte de coisas para pagar!
(Luz, água, telefone, gás, aluguel, amendoim, mercado, academia)
– Putz, está tudo atrasado!!!
Após vários meses procurando emprego em tudo que era lugar, desde agente funerário até empacotador de mercadinho, me surgiu uma oportunidade em uma vaga incomum: trabalhar em uma TV local, apresentando um programa de entrevistas.


Achei que podia ser uma ideia legal, já que eu tenho grande experiência com as pessoas, principalmente com as mortas. E assim surgiu o Ceifeiro Talk Show, o início da minha carreira na TV. Não ganhava muito bem, mas pelo menos pagava a maioria das minhas contas.
(Marcados: luz, água, telefone, aluguel, amendoim, bar)
(Não-marcados: gás, mercado, academia)
– Já é um começo...
Eu achei que apresentar esse programa seria fácil. Me enganei feio. Daí eu entendi porque eles não terem conseguido outro apresentador além de mim: aquilo era uma verdadeira bomba, em todos os aspectos...


Tanto que meu primeiro entrevistado foi um terrorista...
– Tudo o que eu queria era um pouco de atenção. Meus pais estavam ocupados demais se explodindo, daí eu resolvi fazer igual...
– !?
(Hoje: Homem-Bomba)
Mas já entrevistei gente de todo o tipo...


Celebridades...
– E aí? Beleza?
(Hoje: Patinho Feio)
Super-heróis...
– (Arroto)
– !
(Hoje: O Incrível Bêbado!)


Políticos...
– Companheiro...
– (Ronco)
(Hoje: Debate Sobre o Futuro do Brasil)
Depressivos...
– Minha família me odeia! Eu não tenho amigos! A vida é uma droga! Eu vou me matar!
(Choro)
(Hoje: Claudemar)


Alienígenas...
– Ordeno que leve-me ao seu líder, terráqueo!
– ?!
(Hoje: Representante da Comissão de Invasão à Terra)
E até algumas visitas inesperadas...
– Mamãe?!
(Hoje: Debate Sobre Filhos Inúteis e Problemáticos)


Eu entrei em muitas furadas por causa desse programa... Principalmente quando a produção resolveu que, além das entrevistas de estúdio, eu teria que fazer reportagens externas. Foi uma encrenca pior que a outra. Teve a vez que eu fui enviado à favela...
– Cê vai morre, neguinho!! Cê vai morre!!!
A vez que eu fui jogado dentro de um vulcão, pra falar sobre o magma...
– Aííí!!! Tá quente! Tá quente! TÁ QUENTE!

A vez que eu fui entrevistar recém-nascidos em uma maternidade...
(Choros de dezenas de bebês ao mesmo tempo)
O ruim de ficar famoso é que você é facilmente reconhecido...
– Pô Zé! Quando você tava na pior eu te arrumei uma grana, agora você se esconde para não pagar? Quer me dar um calote, é?
– Não é isso, Marcão! Eu vou pagar assim que tiver grana...

Se bem que às vezes é muito bom ser famoso...
– Olha lá, Jéssica! Aquele gatinho da TV!
– Vamos lá falar com ele, Rebeca!
E é por isso que eu continuo nessa... Trabalhar na TV é difícil, mas é legal. Uma outra hora eu te conto umas histórias muito doidas que já aconteceram comigo...Talvez semana que vem...
(FIM).


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